Carne Poética
Num piscar de olhos
Começa uma nova manhã
E ainda que as pérolas
Tenham as cores do arco-íris
Cá estou
Procurando a que falta para irisar meu dia.
Sempre faço declarações de amor efêmero
Para sempre recomeçar.
Sou o presente
E você… deixa para depois.
Não te peço que vá, senão que fique
Porque eu sou a luz que a sua escuridão não viu,
E é dela que vem o alimento que sustém a leoa
Mas mata os porcos de fome.
Sou as caricias que, à sua frieza,
Cortaram-lhe, qual lâmina afiada
E na altura de seus gritos
Sou o som.
Em decibéis inaudíveis à sua frequência.
Sou o perfume que a sua rinite respirou
Enquanto ouvia a cantiga que a sua infância deixou de cantar.
Você é a arena e eu o teatro que a sua ruminância despercebe
Quando, no seu jardim, sou lagarta que fenece na crisálida, sua cria.
Sou também, à crase que o seu soluço engoliu,
O sorriso que a sua covardia chora.
Sou todos os versos que o seu descaso não recitou
E te servindo à prosódia, na silabada em que pronunciaste sua vida,
Sou a aliteração que a sua presença desdiz.
Me cabe a sandice e o despreparo
Porque eu sou metade grávida parindo um novo dia.
É claro que sou a ponte que leva à outra margem
Mas não sou suas pernas.
Sou sim, seu orgasmo sustenido e dissonante que você nâo sabe dedilhar.
Mas… ei, Alice! Hoje quer ser grande ou pequena?
Ah! E, por favor, quantas horas são?
Não vos digo palavras como “insensatez”
Esperando que os porcos possam ser leoas
Porque o alimento se defende num galope
Mas elas atacam e se lambuzam.
Agora, enfim, se leoa morta
Mesmo do alto de sua majestade
E numa apologia ao excremento do corpo
Torna-se comida
Dos pequenos vermes.
Anderson Ribeiro
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